quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Baú das obsessões


A obsessão por lembranças. Estoques de recordação. Caixas de cartas. Palavras salvas. Mensagens eternas. Tudo isso na tentativa de não deixar o passado cumprir sua função. Mas, o que seria de um mundo sem lembranças?

Meu notebook estragou. Sim, tive essa infelicidade em pleno final de período da faculdade, com trabalhos para entregar. Chorei pelas ruas de Mariana desconsolada. Pela briga com o namorado, pelos dados do relatório de estágio, fotos, dinheiro, poesias. O computador é como que uma caixa de lembranças, depósito de memórias. Fazer back up para quê? Jamais aconteceria comigo. Levei na assistência – ufa! Eu havia comprado a garantia estendida. Por favor, coloque a observação de que tenho dados muito importantes do meu trabalho. Mentira. Em partes. Re-transcrever entrevistas era o de menos naquele momento. O que eu mais queria, mesmo, eram as minhas fotos e poesias, colecionadas e confeccionadas com um amor sobre-humano. Nos 20 dias até receber o retorno da Garantec tentei me convencer de que daria tudo certo. Com tudo salvo. Doce ilusão. Ganhei um notebook novo, sem arranhões, Bluetooth – que eu excluí, não sei como – e um 1 gb a mais de memória. O problema do dinheiro e da briga com o namorado estavam solucionados. Mas, e as minhas lembranças? Até hoje não acredito que elas se apagaram. Fico na esperança de encontrá-las por aí, em um dia ensolarado qualquer.

O que me fez começar a escrever esse post non sense foi uma perturbação dos últimos dias. Por que essa obsessão por lembranças? Será que, sem elas, esqueceríamos quem nós somos? Mas nós, nessa intensa humanidade, somos senão muitos, vários, infinitos. Acredito que a lembrança traga no seu âmago uma profunda tristeza – a de que não somos mais. Ou a tristeza de que jamais teremos aquela felicidade ingênua e descomprometida daquele retrato, ou aquele maior amor, com direito a frio na barriga e pequenas surpresas, subentendido nas cartas rodeadas de palavras ridículas – devido a natureza das cartas de amor, segundo Drummond. Se as lembranças nos remetem tudo o que não mais podemos ser, ter e sentir, nos deixando, então, tristes, porque idolatramos esse deus perverso chamado saudade?



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