quarta-feira, 30 de maio de 2012

relatos de uma viagem - punta lara e reflexões

Sempre existe aquela pergunta "E o intercâmbio? Como está a Argentina? Aproveite, é uma oportunidade única, maravilhosa". Sim, ter essa oportunidade é algo incrível, estupidamente maravilhosa. Não só pelo crescimento acadêmico que, para mim, é na verdade a menor das maravilhas. Aprender a seguir a vida com as próprias pernas, longe das pessoas que você ama, controlando seu dinheiro que é pouco em um país super inflacionando, aprendendo, depois de 4 anos em uma cidade, a construir novas amizades e desejos. Depois de muito tempo parado, a gente passa a nem perceber as coisas, de certa forma. Assim, a mudança é fundamental. O dinamismo da vida. Nessa viagem - que é sempre para dentro - aprender a ver de novo. Pode parecer apenas uma forma de poetizar as ações cotidianas, mas não...Sempre ando nas ruas embasbacada com a beleza das folhas amarelas que caem no chão e imagino que aquilo é uma dança da natureza. Não é novidade que o outono e o mês de maio são meus favoritos. Essa poesia da Adélia Prado define:


A salvação opera nos abismos.

Na estação indescritível,

o gênio mau da noite me forçava
com saudade e desgosto pelo mundo.
A relva estremecia
mas não era pra mim,
nem os pássaros da tarde.
Cães, crianças, ladridos,
despossuíam-me.
Então rezei: salva-me, Mãe de Deus,
antes do tentador com seus enganos.
A senhora está perdida?
Disse o menino,
é por aqui.
Voltei-me
e reconheci as pedras da manhã





Pasmem: até abracei uma árvore. O intercâmbio é maravilhoso pra gente parar e refletir sobre a própria vida, os rumos que tomamos, por onde nos esquivamos do caminho. É, nem tudo são fiestas internacionales. Que são muito legais, por sinal. Essas festas são bem diferentes das do Brasil (entenda-se: festas republicanas da UFOP). Argentinos mesmo, quase não conheci. Os intercambistas que são mais unidos e, nesse bloco, várias nacionalidades: brasileiros, franceses, mexicanos, venezuelanos, espanhóis, colombianos. E, quando se conversa, apesar da dificuldade e diferentes expressões, a gente acaba vendo que tá todo mundo na mesma, se re-inventando, sofrendo, pensando, experimentando, estudando, acoxambrando e sendo feliz.


No meu caso, muito mais que aprender questões curriculares, foi aprender sobre a vida. Desde o início sabia que seria dessas buscas em que se precisa morrer para nascer de novo. Como a fênix e suas inúmeras vidas. Sair da zona de conforto. Tentar tocar e admirar o bonito das coisas, das relações, e, também, ver a verdade de cada um. Muito longe do mundo ideal. Essa viagem para dentro e, ao mesmo tempo de espaço, me fez perder muitas coisas. Coisas que eu pensei que jamais pudesse viver sem. Mas o tempo mostra que a gente só perde para o novo venha. E, no final, não é nem perder a palavra exata. A gente perde momentos com os amigos que ficaram, almoços com a família, feijoada, carinho de pai e mãe e avó e tios e primos, brigas e risadas com o irmão. A gente perde aquele conselho da melhor amiga, aquelas horas de prosa fiada deitada no colchão. Até o namorado a gente perde. Mas, a gente também ganha muita coisa relacionada a tudo o que ficou. Porque os abraços, os carinhos, as prosa-fiadas estarão acumuladas pra quando a gente voltar. E, no coração, também vai ter a vontade de um novo amor. 

A saudade agora está ficando diferente. Antes, do Brasil. Mas...tenho apenas mais um mês de Argentina, praticamente. Como passou voando! A saudade agora se faz de onde está. E como vou sentir falta de tudo isso. Das ruas, das folhas, do frio, dos alfajores, de comidas que só encontro aqui, do sorvete maravilhoso, de morar com a Paula, o Arthur e o Sebastian. De pegar ônibus lotado e caminhar mais de 2 Km de volta para casa. De esperar o 214 B. Das praças, da arquitetura, do Guillermo achando que nós somos uma enciclopédia apenas por sermos historiadora e periodistas. Do 'castechaaaaano' Argentino. Das quintas-feiras que o Sebastian traz pizza para a nossa alegria. Dos inúmeros planos de ir à Bolívia, Chile, Uruguai. Dos micos por não saber espanhol. Das festas. Dos bares. Da vida noturna platense. De mi Buenos Aires querida, tão do ladinho. De tantas coisas! De repente, o projeto 8 semanas virou 4.




Essa semana, para colocar em prática o projeto, fomos a Punta Lara. Fica perto de La Plata. Para ir, é só tomar um coletivo que custa 1 real (?!?!). O lugar dá paz. É um rio que parece mar. Com vários pescadores. Definitivamente, um lugar que quero voltar ainda essa semana só pra sentir 'a paz de estar em par com Deus'. Para quem está em La Plata, ou quer vir a La Plata ou só ficou curioso em ter a informação caso um dia necessite: o ônibus para Punta Lara se pega na Plaza San Martin, e o número é 275. Demora quase uma hora. Então, saia mais cedo.







quarta-feira, 16 de maio de 2012

outono em 15 atos

I


quando o caos precipita
e o escuro encobre meu vestido de sol
o inesperado surge à ponta:
e meu destino, retraçado,
esboça cores jamais imaginadas.

II


nas profundezas de mim
sinto os sinais de outono.
e sinto medo.

com o sol rente a cabeça.

III


a vida segue, lentamente,
seu movimento indecifrável
de coisa avassaladora.
das utopias do dia, eu quero a noite.

das dinastias, o sentimento
é de maior nobreza.

que no poço
vil

no fim do caos

você possa, enfim,
amar.

IV


dentro dessas recém-amarguras
que fundem o peito
faço orações que me vem acalmar.

quando penso descobrir
um novo caminho de outono
me deparo, sem mais

com novo desalento.

V


na vida como na dança
cada passo em falso
exige improvisação.

tira da cartola o sorriso
e busca na paz que não tem
a que procura.

sem o riso aflito, na imensidão das horas
um minuto gira torto
e a felicidade é num instante.

VI


nessa vida, que muito do tempo
engana
tem nas coisas um ruído estranho -
nem sempre o que se pede
é o que se tem.

sem maldade por dentro
nas tramas do coração vivo
a ingenuidade é tecida
à mão.

VII


desfaz esse vento que,
aí dentro, tem morada.
se arrisque nesses abismos
sentimentos tortos
inventados
sem data marcada.
e, se desvario acontecer,
procure nas minhas palavras soltas
a lamparina na noite escura.

VIII


na tua fala mansa
que eu penso escutar
me avesso no cantar
das coisas,

como um grito distante
como o piano
o timbre

a luz, ao fundo.

nesse onírico encanto
olhei para janela
sem esperar primavera chegar.

IX


a arte de confundir as coisas
me abre o peito
e treme o corpo.

nada melhor para a saúde
que um amor inventado.

X


na perfeita sintonia
dos pares errantes
das vozes distantes
nesses desconexos passos
de que um chega
e outro já vai.

XI


queria fazer poesia
para você sorrir e pensar
'nesse seu pranto torto
sem querer
encontrei meu lar'.

XII


quando apareceu na minha vida
era dia de outono.
no tempo e na vida.
apegada que sou nas coisas que tenho,
mal percebi que era para sempre.

desconversei

na minha noite de tempestade,
percebi o que acontecia.

da possessão ao sentimento,
três corpos desconexos.

eu gostava do estrago.

XIII


quando te digo mundo
nessa vastidão de sentido
de palavra

a resposta é sempre
contrária do que
pergunto nas entrelinhas.

XIV


dentro do infito cristalino
da alma e o corpo que habita
ele carrega seus demônios acorrentados
que rogam pragas como se cuspissem fogo.
e, na ingratidão intrinseca de parasitas
encerram o homem e sua prória imensidão.

XV


nesses seus sonhos
de menino desesperado
só vejo a busca incessante
pelo amor.

das tristezas da vida,
só a solidão te faz definhar.
como a vela que queima
e, no pouco que resta de luz,
se desfaz em branco líquido.

não, não se afaste assim.
no seu desconhecimento
da vida

eu, perdida,
quero, enfim

ter meu lar.



















segunda-feira, 7 de maio de 2012

relatos de uma viagem - república de los niños

Nesse final de semana conheci a famosa República dos Niños. Apesar do nome, a gente vê muito mais jovem que criança por lá. É uma ótima programação, independente da idade.  "Reproduce en un tamaño proporcional para los niños, una ciudad con todas sus instituciones: parlamento, casa de gobierno, palacio de justicia, iglesia, puerto, teatro, aeropuerto, restaurantes, hoteles, etc." A entrada no parque tem o valor de $10. Mas para usufruir de alguns outros passeios dentro do parque tem que se pagar mais alguma coisa (como para andar de canoa, entrar numa espécie de estábulo, brincar no parque de diversões). Segundo o site oficial, a Disney foi inspirada nessa República criada por Juan Perón e Eva Perón.  "Considerado el mayor emprendimiento infantil de Latinoamérica y primer parque temático de América, la República de los Niños fue fundada con un doble propósito: el de esparcimiento creativo en un mundo de sueños y cuentos ligados a la infancia y el de aprender a ejercer los derechos y obligaciones que en todo país democrático poseen los ciudadanos. Por aquellos años, Walt Disney visitó el lugar y sorprendido por tanta belleza se inspiró para construir más tarde Disneylandia, en la ciudad de Anaheim, California."

Não sei muito bem o que falar sobre o lugar...é mais pra ir e desfrutar! Passear com os amigos, com a família. Vi algumas pessoa fazendo caminhada por lá também. Acredito que as fotos vão passar toda a vontade e delicadeza do lugar. Ah, o parque fica em La Plata mesmo.


 o nome de praça mais popular da Argentina


Aí dentro funciona um museu de bonecos






 Bia gracinha




Momento Jade

 
nessas tentativas tortas de elevação espiritual





RISOS


o que mais falta


foi lindo! infelizmente, tenho uma grande queda por parque de diversões