quarta-feira, 1 de julho de 2015

Paissarinho

Com um sorriso tímido no canto do olho ele disse: em breve teremos café daqui de casa para tomar. Nos pequenos cuidados o amor se desdobra, pensei ao olhar seu ritual diário no trato dos grãos. Pela manhã os colocava em uma peneira grande e a deixava repousar no carinho do sol. De tardezinha, sentado na varanda, descascava os grãos depositados em um pilão de madeira. Assim foi por três semanas e 500 gramas de café. Certa vez, apreciando o sabor daquele que, para nós, era o melhor café – porque cultivado com zelo e carinho de pai – comentei como o dia estava bonito. O sol quente nos afagava naquela manhã fria de junho. Ele, com seus olhos observadores fitando o mundo, falou: ao escutar a conversa da noite me foi revelado que o dia amanheceria assim. Fiquei quieta, refletindo sobre os mistérios que a natureza compartilha com os velhos do rio e mais ninguém. Ao vê-lo sentado em uma poltrona, no caos da cidade grande, penso que o mundo está ao avesso. Os lares verticalizados te atrapalham o horizonte. Volta para o mato, PAIssarinho.

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